Magralinda x Gordanot(?)

19 06 2009

Texto por Camila Carneiro

Quando eu nasci, era um bebê realmente fofo, com cara de joelho e peso de um corpo inteiro. Em apenas 3 meses, eu já pesava 9kg enquanto minha mãe tomava anabolizantes para me carregar. Na verdade, lembro até hoje de ver visitas me segurando, suando e fingindo conforto.

O tempo passou e não mudou muita coisa. Eu era a criança gorda, redondinha, daquelas que são ótimas para rimas de amigos malvados que acabam se tornando marginais na adolescência. “Gorda/Baleia/Saco de areia/Comeu banana podre e morreu de caganeira”, cantava Wilson, que hoje deve ser porteiro de puteiro.

E, na verdade, eu estava cagando montes para as pessoas da minha infância. Eu era auto-suficiente, me entretinha com meus próprios pensamentos aos 6 anos e ignorava o papo furado que vinha de fora. Meu mundo era eu e se encerrava em mim, mesmo enquanto eu me sufocava com minhas bochechas a cada sorriso.

Sim, Educação Física não era para mim. Era a última a ser chamada, logo depois da outra Camila, que mancava e não falava português. Não era incomum eu aparecer com faixas e dizer que havia quebrado o braço, dores-de-barriga inventadas e visitas constantes de alienígenas que teimavam em esquecer uma sonda anal. Esta última, apesar de parcialmente divertida, nunca convenceu professores.

Aí que chega a adolescência e pouco importa o que a gente pensa, você só quer saber dos outros, da opinião alheia. Dei adeus à minha auto-suficiência e escondia meu corpinho com casacos e mais casacos, Alaska-style. Tenho trauma até hoje de lã e ganhei o prêmio de auto-iglu móvel na feira de ciência das escolas.

Mudei de escola e conheci o capeta em forma de números de matrícula. A turma era do mal, envolvida em uma fumaça preta à base de Marlboro e câncer no pulmão. Com tanto alucinógeno, tanto faz se eu era gorda, azul ou usava pochete. “Sou gordo e quem liga? Pego o cara gato do colégio!”. Pena que durou apenas o primeiro ano.

No segundo colegial, me tornei compradora compulsiva de sapatos. Eu gosto de sapatos. Eles não discriminam as pessoas. Se você calça 34, tanto faz se é gorda ou magra, teus dedinhos caberão lá da mesma forma.

E, pra vestir o clichê de vez, me tornei engraçada. Toda gorda é engraçada, amiga e ótima companhia. Dos 15 aos 23 anos, isso não mudou muito. Mantive meu tamanho, o humor e a vontade em me tornar uma centopéia. Eu já me conhecia. Já sabia como meu corpo funcionava e minha cabeça já tinha se conformado com isso. Era questão de deixar o tempo passar e torcer para o Google inventar uma pílula de emagrecimento online.

Ai chegou a crise dos 25 anos. Já ouviu falar dela? Se não, é por que você é novo e eu te odeio, mas é o equivalente à crise dos 24 anos para os membros do GLBT e restante do alfabeto. Tudo muda. É uma puberdade nova, sem as espinhas, descoberta sexual e exemplares da Capricho.

Eu pesava respeitáveis 85 quilos, distribuídos em 1,53m. Resolvi mudar de vida. Fechei a boca. Parei de comer mesmo. Entrei na academia, fiz a matrícula e, pasmem, comecei a freqüentar. Entre exercícios, abdominais e pororocas de suor limpo, eu mudei!. Perdi 25kg em 8 meses, o que seria, na verdade, o peso de uma criança saudável africana. E agora eu tornava uma pessoa normal. Até a próxima crise, pelo menos. Aí o que eu perco? Os cabelos? A libido? A vergonha na cara? Mal posso esperar.