Correria para pegar o elevador. Umas quatro pessoas, mais você, correm antes que as portas fechem. Um hábito incoerente, o elevador te leva ao terceiro andar, onde fica seu escritório com pessoas mesquinhas, seus colegas.
– Nossa, que calor – diz um velho de camisa enxarcada de suor.
Todos pensam o mesmo: fedor. Sorrisos amarelos brotam. O elevador para no primeiro andar e o velho sai, junto com outra moça, alguns bons anos mais nova que ele. Você pensa que ela podia ser modelo.
– Luara, você pintou o cabelo né? – pergunta uma menina sem nome.
– Luzes. – é a resposta fria de Luara.
No segundo andar, a menina sem nome sai. E você, e Luara, respiram fundo, sincronizados. Um olha pro outro, e dão risadas. Um momento de bobeira. Ela lhe diz:
– Fazia tempo que eu não te via por aqui.
– Estava de férias… Como eu precisava delas, fui pra praia mesmo.
– Há alguns anos eu não tiro férias. Já não lembro mais de como é.
O que você pode responder? Antes de pensar, é o terceiro andar e se despede, sai sorrindo e olha pra ela. É um jogo de espelhos, no mínimo instante você percebe que você é quem não tira férias, você é quem ficou sumido por estar tão doente que não conseguia voltar ao trabalho. E sua tristeza é mascarada, assim como as portas do elevador que se fecham. Luara, já não olha mais e procura algo na bolsa. Você pensa em parar a porta, num ato de desespero sem sentido. Então, tudo volta ao normal.
Você caminha pelo corredor e ouve um grande barulho abafado, que ecoa pelas paredes, pelos canos, pelo ar quente.
Fico feliz, por você.
por Shin Hatagima
Por isso sou a favor de pedir demissåo, você se sente tão livre. E tão pobre…